Apesar do cenário atípico e das incertezas com relação à pandemia, empresários acreditam que o ano será de retomada consistente da economia
O industrial do Paraná acredita no potencial e na força da indústria do estado. Esta é a conclusão da 25ª Sondagem Industrial – pesquisa feita entre 15 de outubro e 26 de novembro pela Federação das Indústrias do Paraná (Fiep) com representantes de empresas de diferentes portes em todas as regiões do estado. Mesmo diante das dificuldades enfrentadas por diversos segmentos ao longo deste ano pandêmico, 68% dos participantes acreditam que 2021 será um ano de retomada para o setor. A mostra coletada representa mais de 50 mil estabelecimentos industriais de 37 segmentos, que geram 792 mil empregos no estado.
Os empresários justificam o otimismo com uma expectativa de aumento das vendas de seus produtos, sinalizado por 71% deles. Já 40% apostam em abertura de novos mercados, 34% devem fazer novos investimentos, 33% devem incorporar novos modelos de negócios e 31% acreditam num controle da pandemia do coronavírus no país.
O resultado da Sondagem ficou abaixo do registrado no ano passado, quando 79% dos empresários estavam animados com 2020. Vinte e sete por cento se manifestaram neutros. Os pessimistas somam apenas 4,5% e os principais fatores que justificam esse comportamento são o aumento dos custos de matéria-prima, a redução nas vendas e a restrição de novos investimentos.
Para o presidente da Fiep, Carlos Valter Martins Pedro, o nível de otimismo menor este ano se justifica em decorrência do momento de grandes incertezas pela qual as economias brasileira e mundial estão passando. ”O dado sinaliza uma preocupação, mas também que o empresário acredita que a economia e, principalmente sua atividade, estão em uma trajetória de recuperação”, destaca. “Mas é importante lembrar que mesmo com uma visão positiva sobre o futuro da economia, o industrial entende que não se pode perder de vista a implementação de ações concretas para a retomada em 2021, assim como para a melhoria do ambiente de negócios no país, no longo prazo, por meio de medidas como as reformas fiscal, tributária e administrativa”, completa.
Reflexo do otimismo e um dos pontos fundamentais da pesquisa é a intenção de investimentos. “A retomada dos investimentos é um forte sinal de recuperação. Seja em ampliação de estrutura, aquisição de maquinário, aumento de postos de trabalho ou em inovação é um ponto importante para manter a competitividade”, avalia o economista da Fiep, Marcelo Alves.
Quando questionados diretamente sobre essa intenção, 69% dos gestores confirmaram a disposição de investir em inovação e melhoria de processos, produtos ou serviços, ampliação de capacidade produtiva, redução de custos e melhoria da qualidade. “Essas prioridades indicam estratégias de reposicionamento de mercado, aumento da capacidade produtiva e manutenção ou ampliação da competitividade”, diz o economista.
Já para Evânio Felippe, economista que também participou do estudo, é importante analisar a origem dos investimentos. Cerca de 60% das empresas que investirão em suas atividades produtivas informaram que vão lançar mão de recursos próprios para financiar suas iniciativas. “A série histórica da Sondagem Industrial mostra que esse comportamento vem se mantendo ano após ano. Isso se explica, em linhas gerais, pela dificuldade de acesso, a burocracia e o alto custo do crédito no Brasil, além dos riscos de endividamento”, analisa. Segundo ele, na comparação com anos anteriores, caíram as intenções de empréstimos junto aos bancos. Em contrapartida, as cooperativas de crédito e fintechs vêm se tornando cada vez mais atrativas para financiamento de investimentos.
Comércio exterior
Na visão da maioria dos industriais o momento não é propício para investir no mercado externo. Entre os respondentes, apenas 32% afirmaram ter a intenção de exportar em 2021. A principal razão seria um posicionamento com foco no mercado interno. Para os que estão de olho nas oportunidades fora do Brasil, a cotação favorável do dólar e a possibilidade de ampliação de mercado são bons motivadores. “A atividade de comércio exterior é uma boa oportunidade e deve sempre estar no radar dos empreendedores. Mas ela demanda competitividade, conhecimento do mercado-alvo e estratégia clara por parte das empresas”, recomenda Felippe.
Uma preocupação aparente na pesquisa refere-se às importações. Quase 60% dos entrevistados não têm intenção de fazer compras no exterior principalmente em função do câmbio desfavorável. A alternativa é investir em fornecedores nacionais. Entre os que pretendem comprar fora, a intenção é adquirir insumos e matérias-primas, máquinas e equipamentos e serviços de tecnologia.
Ambiente de negócios
Os empresários também sinalizaram quais serão as prioridades de gestão em 2021. Mais de 40% pretendem desenvolver novos negócios e incorporar produtos ao portfólio. Em segundo lugar, variando entre 27% e 31%, estão estratégias de reposicionamento no mercado, valorização da marca, satisfação do cliente, PD&I e incorporação de novos canais de comercialização. “Este pode ser um reflexo dos desafios e oportunidades geradas pela pandemia. Também podem sinalizar a intenção dos executivos de uma preparação para se manterem fortes ou até explorarem novos mercados”, comenta Alves.
Para os empresários, as reformas tributária, fiscal e administrativa, desburocratização, combate à corrupção, acesso ao crédito e uma política governamental eficiente para enfrentamento da crise causada pela pandemia da Covid-19 no Brasil são os sete temas de maior relevância a serem tratados em 2021. “Os cinco primeiros fazem parte da agenda de itens fundamentais para o aumento da competitividade e melhoria do ambiente de negócios. Os demais são cruciais para a manutenção e desenvolvimento do setor produtivo”, acredita Felippe.
Retrospecto de 2020
Para 59% dos industriais, as empresas tiveram um desempenho bom ou muito bom em 2020. O crescimento das vendas e a abertura de novos mercados foi a justificativa. Apenas 15% dos participantes assinalaram que o ano foi ruim ou muito ruim. O que mais impactou nesse resultado foi a redução das vendas decorrente da crise econômica gerada pela pandemia, o aumento dos custos e a escassez de matéria prima.
A pesquisa também mostrou quais foram as principais medidas que as indústrias paranaenses adotaram para enfrentar a crise. Suspensões de viagens e de reuniões profissionais, dilação de pagamentos (de impostos, fornecedores e salários, entre outras obrigações) e adiamento de investimentos foram as principais ações apontadas. Nesse último item, 35,6% das empresas afirmaram ter realizado 0% do investimento previsto para o ano, enquanto 27,9% realizaram apenas de 1% a 25% do investimento planejado. Fonte: Agência Fiep.