O Museu Paranaense abre na próxima terça-feira (14), às 19h, a mostra “Nosso Estado: vento e/em movimento”, sobre a identidade múltipla e mutante do população do Paraná. Formada a partir de dois eixos principais — Deslocamentos por dentro e Deslocamentos pela margem — que se dividem em cinco núcleos cada, esta exposição é resultado de uma grande pesquisa iniciada pela equipe do museu em fevereiro de 2020.
“Essa exposição coroa o belo trabalho que vem sendo feito pela direção do MUPA nos últimos três anos: o movimento necessário de se aproximar dos povos que estão na origem de nossa cultura e do público. Acredito que o museu é uma das instituições brasileiras que faz isso com maestria”, afirma a superintendente-geral da Cultura, Luciana Casagrande Pereira.
O primeiro eixo, chamado de Deslocamentos por dentro, propõe um mergulho na história de algumas das diversas comunidades que formaram o Estado do Paraná. Desde migrantes relacionados a deslocamentos ocorridos ao longo do século XX, como ucranianos e alemães, passando por migrações contemporâneas de venezuelanos e haitianos; exílios indígenas, como o emblemático caso da etnia Xetá; e comunidades quilombolas.
O segundo eixo, Deslocamentos pela margem, é inteiramente dedicado à cultura caiçara. Nele, os visitantes poderão se aproximar dos aspectos relacionados às relações ecológicas, à musicalidade, à religiosidade e festividades das comunidades caiçaras, bem como dos conhecimentos ligados aos saberes e fazeres artesanais dessa população tradicional que habita o litoral paranaense.
A proposta é levar ao público os depoimentos de imigrantes, de seus descendentes e representantes ou membros das comunidades tradicionais. Todos os depoimentos foram gravados durante seis meses de trabalho de campo em Curitiba, Ponta Grossa e no litoral paranaense por um grupo multidisciplinar, formado por cineastas, jornalistas e pesquisadores acadêmicos, em conjunto com a equipe do Museu.
Ao longo das gravações, a equipe posicionou as pessoas entrevistadas como protagonistas nos relatos de suas próprias histórias de vida. Estes depoimentos, que estreiam publicamente pela primeira vez na mostra, passam a compor o acervo do MUPA; resultado do compromisso assumido pela atual gestão de ampliar e atualizar o acervo do museu.
O conjunto de 22 depoimentos em vídeo, apresentados em telas que mostram os entrevistados em tamanho real – causando a sensação de estar frente a frente com eles, conversando – é enriquecido com imagens de paisagens emblemáticas do Paraná, como das formações rochosas de Vila Velha, mangues, mar e lagamar do Litoral.
A mostra contará ainda com aproximadamente 100 objetos que fazem parte do acervo histórico, antropológico e arqueológico do Museu Paranaense, um híbrido entre acervo e novos registros que enriquecem a coleção e aprofundam o debate.
A singularidade do conceito de “Nosso Estado: Vento e/em movimento” vive na ideia de que a partir de um depoimento íntimo é possível entender um contexto maior e muitas vezes comunitário, coletivo – já que a experiência individual das vidas se dilata, gerando empatia e identificação, promovendo alteridade e representatividade.
Visitando a mostra, será possível perceber um panorama da complexidade de experiências nos deslocamentos físicos e simbólicos das pessoas que ajudaram a formar o Estado, além de conhecer a riqueza e os desafios que se colocam ao modo de vida caiçara. São indivíduos que narram suas experiências. Essa metodologia adotada reforça a recente atuação no MUPA de entender a instituição como um espaço de relações, a fim de aproximar o Museu da comunidade.
Para conectar os dois eixos da exposição, que tratam de assuntos complexos e diversos entre si, a curadoria utilizou o vento como metáfora. Na cultura caiçara, o vento é norteador para pensar toda a relação deste povo com seu território e modo de vida. O vento também remete ao movimento e à mudança, dois aspectos centrais quando pensamos em deslocamentos. Essa metáfora perpassa todos os textos, os depoimentos e se traduz nos vídeos das paisagens.
MUSEU COMO ESPAÇO – Segundo a diretora do MUPA, Gabriela Bettega, houve um esforço pela busca do aprofundamento das representatividades na produção e no conceito expositivo, buscando desviar de estereótipos como o de que somente populações europeias formaram o Paraná, ou armadilhas que tentam essencializar o que é “o caiçara”, romantizando a relação dessa população com seu território.
“Isso só foi possível porque são as pessoas que narram sua experiência e não mais o ‘museu’ que fala por elas. Imaginamos o museu como um espaço de relações, uma arena aberta ao debate”, afirma.
ACESSIBILIDADE – Os vídeos da exposição serão disponibilizados também com tradução em Libras. O material poderá ser acessado através de QR Code na exposição e através do site do MUPA.
APOIO – A exposição foi viabilizada pela Lei de Incentivo à Cultura, com patrocínio do Banco Bari, Instituto Barigüi, Grupo Barigüi, Compagas, Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), Sanepar e Copel.
Serviço
Exposição “Nosso Estado: Vento e/em movimento”
Mostra de longa duração no Museu Paranaense
Abertura terça-feira, dia 14 de junho, às 19h com participação do Grupo Mandicuera (Aorelio Domingues, Poro de Jesus e Zeca da Rabeca)
Endereço: Rua Kellers, 289, São Francisco – Curitiba
Entrada gratuita