A VOLTA DA INFLAÇÃO AUMENTA ONDA DE GREVE NO PAÍS

Ivan de Colombo
A insatisfação cresce. Petroleiros da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), no Paraná, farão greve de 24 horas, hoje. Eles vão protocolar denúncia no Ministério Público do Trabalho sobre o déficit de pessoal e os riscos que isso representa. Os empregados da Petrobras na Bacia de Campos – que concentra 80% da produção nacional, param por 24 horas nesta sexta-feira, data em que será divulgado o balanço da companhia. A categoria reivindica que a estatal retome o pagamento do descanso remunerado, com o mesmo valor de um dia trabalhado. O benefício foi cortado em julho.

A resistência das empresas em conceder reajustes acima da inflação pode detonar uma forte onda de greves. O segundo semestre é marcado por pressões historicamente conhecidas e por negociações salariais tensas. Só nos últimos seis meses, são 253 negociações de 76 categorias, a maior parte delas do setor industrial. Na análise do coordenador de relações sindicais do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), José Silvestre, a situação da economia brasileira pode dificultar os acordos e provocar recuo nos ganhos reais neste ano, em comparação a 2 levantamento do Diese aponta que, das 696 negociações do ano passado, 98% resultaram em algum aumento dos pisos salariais, a maioria acima do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). O ganho real médio registrado foi de 5,62%. “O atual cenário econômico dificulta, sobretudo por causa do aumento da inflação e dos juros e da piora na expectativa de crescimento do país”, disse.012.
Silvestre, no entanto, não acredita que vá haver queda significativa nos ganhos. “Na média dos resultados dos acordos no ano deverá haver recuo, mas nada muito abaixo do padrão”, afirmou. Enquanto as categorias querem ganhos reais mínimos de 5%, além de ampliação de direitos trabalhistas, até agora, em grande parte dos dissídios coletivos, a oferta máxima dos patrões não chega a 2% e, em alguns casos, os trabalhadores que se colocam à frente dos movimentos são punidos com demissão. 
Os funcionários da Eletrobras retornaram à greve, ontem, após discordarem da contraproposta da estatal, durante a audiência de conciliação no Tribunal Superior do Trabalho (TST), na quinta-feira. Eles não abrem mão de reposição inflacionária, de 6,49%, acrescida de ganho real de 1%. Os peritos federais agrários do Incra cruzam os braços por três dias (de hoje a sexta-feira), como forma de pressão sobre o governo federal, que não aceita conceder mais que os 15,8%, acordados em 2012. A categoria se reuniu com o Ministério do Planejamento por três vezes, mas não houve avanços. Já é a quarta paralisação desses profissionais neste ano, que querem isonomia com o salário de seus colegas do Ministério da Agricultura.
Retaliação na área da saúde 
Algumas categorias, no entanto, enfrentaram retaliação. Sob a alegação de enxugar a máquina, a Unimed demitiu em Brasília, no fim de semana, cerca de 50% dos funcionários que estavam em greve desde o dia 1º. Segundo o SindiSaúde, que representa a categoria, mesmo assim, o movimento continua, já que nenhuma das reivindicações foi acatada. Os trabalhadores farão assembleia amanhã para decidir sobre “encaminhamentos jurídicos das demissões”. Também o frigorífico JBS, da Friboi, demitiu de uma só vez 60 pessoas, nove dias após a greve de dois dias contra a mudança de horário, condições de trabalho e reposição salarial. Indignados, os trabalhadores prometem nova paralisação.
Os bancários também reclamam de várias instituições financeiras. Contraf-CUT, federações e sindicatos representantes da categoria repudiaram o corte de 3.216 empregos nos últimos 12 meses, sendo 2.290 no primeiro semestre deste ano. E a Federação dos Trabalhadores em Transportes Aéreos (Fentac) discute, hoje, com o ministro do Trabalho, Manoel Dias, um plano de licenças não remuneradas para cortar 811 pilotos e comissários.
Metalúrgicos de Minas
Reajuste salarial de 13%, piso de R$ 1.698, abono de um salário nominal e redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais, sem redução de salários, são as principais reivindicações dos metalúrgicos de Minas Gerais. A campanha da categoria foi aberta em 31 de julho pelas federações dos metalúrgicos FIT Metal, ligada à Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Estadual dos Metalúrgicos (FEM), da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a Femetal, ligada à Força Sindical. As três instituições representam cerca de 250 mil trabalhadores no estado, com data-base em 1º de outubro. Jornal de Minas




QUEDA NO PREÇO DO TOMATE GERAM PREJUÍZOS NO CAMPO


Depois de ficar conhecido como vilão da inflação e virar alvo de piadas e protestos nas redes sociais, fruto fica barato e produtores abandonam lavoura para evitar mais prejuízo.
Eleito o vilão da inflação nos últimos meses, quando o preço do quilo superou o de alguns cortes de carne e virou meme nas redes sociais (leia quadro), o tomate anda tão em baixa que há agricultor jogando a lavoura ao chão. Produtores que venderam a caixa de 20 quilos a R$ 80, no primeiro trimestre, agora não conseguem mais que R$ 20 no produto. Bom para o consumidor: o preço médio do quilo nos supermercados e sacolões de Belo Horizonte despencou 51,60% apenas nos últimos 30 dias, de R$ 3,89 para R$ 1,88, segundo o relatório sobre o custo da cesta básica, divulgado ontem pela Secretaria Adjunta de Segurança Alimentar e Nutricional (Smasan).
O quilo do tomate já chegou a ser vendido a R$ 8 em alguns sacolões da cidade neste ano. A disparada do preço ao longo do segundo semestre de 2012 e no primeiro trimestre de 2013 ocorreu em razão de problemas climáticos no estado de São Paulo. A lei da oferta e da procura beneficiou os agricultores mineiros. Para ter ideia, levando-se em conta o preço médio da caixa de 20 quilos, o valor subiu de R$ 17,80, em julho de 2011, para R$ 51,20 em igual mês de 2012. O auge da cifra ocorreu em março de 2013: R$ 59,20. Desde então, porém, o valor vem caindo: R$ 39,60 em maio, R$ 23,40 em junho e R$ 13 em julho.
“O meio do ano é um período de maior oferta. Muita gente aumentou a produção, em março, no pico (dos preços ao produtor). A tendência é voltar ao ciclo normal, com o valor começando a subir. Mas não serão preços abusivos. A não ser que ocorra situação climática que justifique novos aumentos. Para o produtor, o valor deve chegar a R$ 1 o quilo (no fim do ano)”, disse Pierre Vilela, coordenador da assessoria técnica da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg).
Enquanto isso não ocorre, produtores mineiros lamentam a perda na receita. Há casos em que o custo injetado na plantação (insumo, sementes, irrigação, mão de obra, frete etc.) é maior do que o valor pago pelo mercado. Resultado: há agricultores que optaram por jogar a lavoura ao chão. É o caso de Welington Alves Rodrigues, de 43 anos, dono de uma plantação em Perobas, distrito de Jequitibá, na Região Central do estado e a 105 quilômetros de Belo Horizonte. 
Mais conhecido pelo apelido de Tonga, ele lamentou a perda, mas preferiu ver boa parte de sua plantação no chão, servindo de adubo. Por algumas semanas, no primeiro trimestre, ele negociou cada caixa de 20 quilos por R$ 80. Atualmente, não consegue mais de R$ 20 pela caixa. Diante da redução drástica, decidiu apostar no milharal. “Terminei de arrancar tudo e vou passar a máquina para plantar milho. Não vale a pena continuar cuidando (dos tomateiros), colocar o alimento nas caixas e levá-lo para vender, pois a perda é grande”, justificou Tonga. 
A 100 quilômetros de lá, na pacata cidade de São José da Varginha, já no Centro-Oeste de Minas Gerais, produtores estão vendendo a caixa com a mesma quantidade do fruto por um preço ainda menor: R$ 10, em média. “O problema é que o custo de cada uma é de aproximadamente R$ 15”, calcula Milton Moreira, de 58 anos, presidente da Unicenter, uma central de negócios que reúne agricultores de outros cinco municípios daquelas bandas – Pará de Minas, Onça do Pitangui, Maravilhas, Florestal e Pequi. 
Em março, recorda Milton, ele e seus colegas da central – esse tipo de entidade tem como objetivo unir produtores para barganhar preços de insumos – conseguiram negociar cada caixa por R$ 60. “Foi o melhor preço que conseguimos na lavoura”, recordou o agricultor de São José da Varginha. A expressão “preço na lavoura” adoça os ouvidos de qualquer produtor rural, pois significa que o comprador pagará o preço e buscará a mercadoria na fazenda.  Isso ocorreu com o tomate este ano, quando os compradores de São Paulo e outros estados pagavam bem e buscavam o produto nas plantações, em Minas.
Cesta básica
As sucessivas quedas no preço do tomate ajudaram no recuo do preço da cesta básica em Belo Horizonte. O valor total dos 45 produtos pesquisados pela Smasan caiu de R$ 569,24, em 1º de julho, para R$ 555,87 em 1º de agosto – queda de 2,4%. O tomate registrou o maior percentual de queda entre as duas pesquisas, da ordem de 51,6%. Para ter ideia do que esse percentual representa, basta dizer que o segundo maior recuo foi o do quilo da cebola, cujo índice de redução foi de R$ 38,81 – o valor médio desse alimento foi de R$ 2,48.

 FEIJÃO A PREÇO DE OURO

Enquanto o quilo do tomate despenca no país, o da batata e o do feijão sobem. O do tubérculo, por exemplo, registrou o maior aumento entre janeiro e junho, segundo o último balanço divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) referente ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do país. O indicador informa que o preço da batata subiu 67,84% no país no acumulado do primeiro semestre de 2013. O do feijão carioquinha, 41%.

Os dois percentuais estão bem acima da inflação oficial do Brasil, que fechou o semestre em 3,15%. “Houve uma falta da chamada batata semente. O Brasil importa o produto (sobretudo da Europa) e houve dificuldades para isso. Também se deve ao encarecimento do dólar”, acredita Pierre Vilela, da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg). Na Ceasa Minas, maior entreposto do estado, o quilo da batata subiu 33% no primeiro semestre: “De R$ 1,24, em janeiro, para R$ 1,65, em junho”, informou Ricardo Martins, da seção de informações da Ceasa Minas.
Em julho, porém, o preço continuou alto no confronto com janeiro, mas registrou um pequeno recuo: para R$ 1,59. Ricardo Martins acredita numa tendência de novas quedas. “O estado do Paraná está com uma boa oferta.”

Preferência nacional

Em relação ao feijão, a causa, novamente, está nas condições climáticas. Houve seca e chuvas desregradas no primeiro ciclo, de março a abril, afetando 30% da lavoura em Minas, o segundo maior fornecedor do grão no país. No Paraná, estado que lidera esse ranking, problemas no clima também prejudicaram a produção.

A queda na safra do feijão será prejudicada com o vazio sanitário que irá vigorar, pela primeira vez no estado para a cultura do grão, de 15 de setembro a 25 de outubro. O vazio sanitário, que é comum em lavouras de algodão e soja, proíbe a plantação em uma determinada região para o combate de pragas. No caso do feijão, a ordem vai vigorar no Noroeste de Minas, responsável por 70% da produção mineira do terceiro e último ciclo do ano, e visa exterminar a mosca branca.

As quedas nas safras de feijão levaram o governo federal a anunciar, em junho, a redução de 10% para zero na Tarifa Externa Comum (TEC) sobre as compras do grão junto a nações fora do Mercosul. Para o ministro da Agricultura e Pecuária, Antônio Andrade, o país vai precisar importar 200 mil toneladas de feijão até o fim de outubro. (PHL) – Jonal de Minas
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