Não é de hoje que sabemos que a maioria dos mitos, lendas e crendices de vários povos tem origem em fatos desconhecidos. Ainda no período da Idade da Pedra, sabemos que as divindades que vieram a surgir foram originadas a partir dos fenômenos naturais, pouco a pouco compreendidos pelos humanos. Da mesma forma ocorreu com algumas doenças e distúrbios psicológicos. A própria esquizofrenia foi considerada, por alguns povos, como possessão; por outros como uma graça divina. Isso, claro, dependia da condição do esquizofrênico e como o distúrbio se manifestava.
A Pesadeira é descrita normalmente com este estereótipo: mulher muito magra – às vezes dita como uma negra gorda, extremamente pesada – com dedos longos e secos, unhas sujas e amareladas, que mais parecem garras; Pernas curtas, cabelos bagunçados, olhos malignos de tom vermelho incandescente, o nariz é pontudo, magro e arcado, queixo pra cima e dentes à mostra. Vive pelos telhados, aguardando ansiosa por aqueles que ao dormir ficam deitados de barriga para cima. Quando sua vítima, satisfeita, entra em sono profundo, ela desce do telhado e senta sobre o peito da pessoa e nele fica pisando com força freneticamente. A vítima tem consciência de tudo o que lhe acontece, pois fica num estado letárgico, onde não está dormindo, nem acordada. Enclausurada, a vítima não se mexe, não grita, nem acorda deste terrível ataque.
Em certa região do São Francisco, a Pesadeira possui na cabeça um gorro vermelho, e os mais velhos relatam o caso de um homem pobre que, quando atacado pela Pesadeira, conseguiu sair do estado de prisão e lentamente retirar o capuz dela. Foi quando instantaneamente ela ficou leve como uma pluma, toda a feição assustadora foi substituída por uma feição mais humilde, que pediu encarecidamente que o homem devolvesse a sua touca. O homem, esperto, pediu que ela lhe fizesse vários favores. A mulher, dotada de poderes sobrenaturais, fez tudo o que podia, deixando o homem extremamente rico e bem de vida para que pudesse ter seu precioso bem de volta. Este trecho do mito tem origem portuguesa, no fradinho-de-mão-furada, uma espécie de duende traquino que trazia benefícios para aqueles com quem simpatizava.
A Paralisia do Sono ou a “Catalepsia projetiva” é um fenômeno natural e benigno ao ser humano. Trata-se da rigidez que faz com que o corpo permaneça parado durante o sono, cessando-se naturalmente momentos antes do indivíduo acordar. Porém há casos em que o indivíduo desperta antes da paralisia ser cessada, o que trás a terrível sensação de não conseguir se mexer, falar, nem nada. Como ocorre no ataque da Pesadeira.
Neste momento em que a consciência está desperta, enquanto há a paralisia é comum que haja várias alucinações (afinal a mente ainda está “dormindo”). Isto ocorre porque no processo de “despertar-se” passa por estágios hipnopômpico e hipnagógico (de alfa para beta e beta para alfa, respectivamente). Onde saímos do alerta pra um sono profundo, ou do sono profundo para o estado de alerta da consciência. Há quem consiga nas alucinações ver tudo o que acontece ao seu redor, ou ver criaturas e objetos em cima do seu corpo, ver o local no qual se dorme de uma perspectiva diferente dentre várias outras coisas. Há até quem aproveite este estado incomum do sono para ter sonhos lúcidos ou, as aceitas por nós místicos, viagens astrais.
Só tomem cuidado pra não encontrarem uma Pesadeira ou outros seres que intermediam esta condição estranha de sono. Pois, sim, há outros seres em quase todas as culturas do mundo que desempenham o mesmo papel que a nossa velhinha do rio.
A segunda se trata de uma doença rara em que o indivíduo parece de fato ter vindo a óbito. É de origem nervosa que faz com que os músculos fiquem num estado de plasticidade motora tal qual um boneco de cera. Várias pessoas foram dadas como mortas e despertaram do estado durante seu velório, ou foram enterradas vivas por conta de um diagnóstico precipitado.
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