GOVERNO LANÇA PACTO PARA O ENSINO MÉDIO

Ivan de Colombo

O Ministério da Educação lançou mais um pacto com gestores estaduais na última semana. Agora, os professores do ensino médio serão alvo de programa de formação com o objetivo de melhorar indicadores de qualidade da última etapa da educação básica. Entidades, professores e estudiosos do tema, no entanto, questionam se as ações serão realmente eficazes. As dúvidas surgem, em grande parte, porque o ministério não discutiu o programa com entidades de docentes e pesquisadores.

A fórmula do novo pacto é bastante semelhante à criada para outra etapa educacional, a alfabetização. Mas, diferentemente do que ocorre desta vez, o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (Pnaic), inspirado em um programa cearense, foi discutido durante três anos antes de ser lançado, no ano passado. Assim como pretende fazer com o Pnaic, o Planalto espera poder usar o novo pacto para o ensino médio como mais uma bandeira para a campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff, no ano que vem.
Desde que começou a ser implantado, o Pnaic conquistou a aprovação de professores, secretarias, universidades. O governo, por sua vez, prometia há tempos lançar um programa que tentasse resolver o nó que se tornou o ensino médio: não atrai mais os estudantes, possui alto índice de evasão e vive uma crise de identidade entre o preparo para o trabalho e para a faculdade.
“Quando o ministro falou que estava pensando em fazer isso (o pacto), discordamos. Queríamos discutir propostas mais profundas e não nos chamaram. O professor não tem que viver de bolsa. Precisa de piso, jornada de trabalho, planos de carreira”, critica o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Roberto Leão.
As críticas de Leão se estendem ao formato. “A gente tem de parar com essa história de pacto. É um pacto para cada coisa agora. Precisamos de uma proposta que dê conta de enfrentar os desafios da educação como um todo. Não podemos perder a visão sistêmica do processo”, ressalta.
O que queremos?
O Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio foi lançado na última segunda-feira pelo ministro da Educação, Aloizio Mercadante. Em entrevista coletiva na semana passada, ele disse que o plano havia sido negociado com os secretários estaduais de Educação e que as ações de formação continuada beneficiariam 495 mil professores.
Segundo o programa, eles receberão R$ 200 por mês e terão encontros semanais de, no mínimo, três horas, para fazer a formação proposta pelos orientadores (que, por sua vez, serão formados por 40 universidades em todo o país) a partir de materiais pedagógicos disponíveis nos tablets entregues aos educadores. Entre os temas, estão currículo e práticas pedagógicas.
Outra dúvida entre os especialistas é a definição de objetivos e metas para um pacto de uma etapa ainda incompreendida pelos gestores, professores e os próprios estudiosos. “O que se sabe é que o pacto quer melhorar a formação do professor. Mas para qual ensino médio? Ainda não definimos o que queremos para o ensino médio. Em todo o mundo, ainda há debates sobre quais seriam as melhores estratégias para essa fase”, comenta Daniel Cara, coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação.
Helena Freitas, presidente da Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação (Anfope), comenta que a juventude precisa ser incluída nos debates e suas necessidades mais amplas – lazer, cultura, esporte, trabalho – serem preocupações de quem a educa. “Iniciativas de formação continuada são interessantes, mas eu não faria o pacto assim. Precisamos pensar em outra fórmula para a formação”, defende.
Para ela, as formações oferecidas no pacto não deveriam partir de materiais pré-definidos. “Os dilemas que eles vivem em sala de aula não estão definidos nos materiais. O foco da formação continuará sendo o aspecto cognitivo, que não é nosso problema atual. Temos de pensar é na questão curricular, na organização escolar que obriga o professor a ter 300, 400 alunos. A escola está chata”, critica.
Helena lembra que a valorização do professor precisa ser o foco dos programas. “A formação continuada é apenas um desses aspectos da valorização”, reforça. A professora aposentada da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) acredita que é preciso olhar de forma ampla para os problemas que o professor enfrenta: jornada e condições de trabalho, formação inicial, formação continuada, salários.
A lógica do trabalho com os adolescentes e as crianças, alvo do pacto da alfabetização, também é diferente. Por isso, a pesquisadora não acredita que a mesma fórmula possa ser bem sucedida. “Não houve discussão prévia sobre o programa e os profissionais da educação deveriam ser os dirigentes dessas propostas. O tempo fora da sala de aula tem outra dimensão no ensino médio. Se não repensarmos a lógica escolar, não dará certo”, diz.
Mudanças de rumos
Para Daniel Cara, a recorrente troca de políticas também prejudica o processo. A preocupação com o futuro do ensino médio, e a pouca qualidade do ensino, existe há muito tempo, é discutida por diferentes entidades, mas as propostas não avançam. “A proposta do ensino médio inovador estava mais próxima da necessidade do ensino médio brasileiro, mas ficou só no modelo. Ele precisava ser mais avaliado, mas foi deixado de lado”, lamenta.
O pacto atual, segundo ele, parece mais oportunista do que assertivo como política pública, porque foi pouco dialogado com a sociedade e não define claramente o que o país alcançará com ele. “O principal acerto da proposta do ensino médio inovador era se dedicar a definir o que queríamos do ensino médio. Isso ainda não está claro. O governo ainda não percebeu que dialogar num país tão diverso como o Brasil significa aumentar o grau de eficácia do programa e ter economia de recursos”, critica.
As entidades também se perguntam se o interesse dos professores no programa será grande. Eles podem escolher participar ou não. Como muitos utilizam o tempo disponível para trabalhar em mais de um emprego e complementar a renda, elas acreditam que os docentes não se interessarão de forma maciça pelo projeto. “Qualquer reforma precisa vir junto com melhorias da condição de trabalho e das condições da escola”, argumenta Leão. (IG)

Brasil melhora em matemática, mas ainda é um dos piores no Pisa 2012

    Professor de escola pública na Paraíba usa quadro tombado Foto: Reprodução do Facebook
  • O Brasil teve a maior evolução de desempenho em Matemática entre os países avaliados pelo Programa Internacional de Avalição de Alunos (Pisa, na sigla em inglês) desde 2003. Mas as boas notícias, basicamente, param por aí. Segundo a pesquisa, divulgada mundialmente nesta terça-feira, mesmo com a melhora, o país ainda está bastante abaixo da média em Matemática, ocupando um lugar entre a 57ª e a 60ª posições no ranking de 65 ecnomias globais. Na área de Leitura, o Brasil também vai muito mal, está entre a 54ª e a 57ª colocações. Já em Ciências, os estudantes brasileiros estão, mais uma vez, entre a 57ª e a 60ª posições.
  • Coordenado pela Organização para a Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Pisa é a mais importante pesquisa internacional de educação. Divulgado de três em três anos, o relatório tem por objetivo melhorar as políticas públicas voltadas para o ensino nos 65 países que participam do estudo. Em relação a 2000, primeiro ano do programa, o Brasil teve a maior evolução de rendimento em Matemática no Pisa: de 334 para 391 pontos. Mas o rendimento ainda é pra lá de insatisfatório. A média geral entre os outros países na mesma prova é de 494, sendo que a cidade de Xangai, na China, que ficou em primeiro, fez 610 pontos. 
  • Em Leitura, a nota brasileira subiu de 396 para 410 pontos desde 2000, mas continua abaixo da média do Pisa, que é de 496 pontos. Em Ciências, o país foi de 375 para 405 pontos (a média geral é de 501 pontos). Entretanto, em relação a 2009, quando foi realizada a edição anterior do Pisa, percebe-se uma preocupante estagnação no aprendizado nacional. Nesses três anos, a nota de Matemática do Brasil subiu apenas cinco pontos, a avaliação de Leitura piorou dois pontos e, na de Ciências, permaneceu no patamar idêntico.S
  • Segundo o relatório do programa, o índice de adolescentes de 15 anos brasileiros matriculados na escola subiu de 65% em 2003 para 78% em 2012, algo que é obviamente visto como um avanço no ensino nacional. Porém, de acordo com a OCDE, “o Brasil precisa procurar maneiras mais efetivas de trabalhar com estudantes de rendimento baixo para, assim, estabelecer altas expectativas para todos, motivar alunos e reduzir os altos índices de abandono escolar”. 
  • O Pisa 2012 mediu o rendimento de 510 mil estudantes de 15 anos de idade. Este número representa um universo de 28 milhões de alunos nessa faixa etária. Durante a avaliação, estudantes de colégios escolhidos pelos governos dos 65 países realizam um teste de duas horas cujo conteúdo não está diretamente ligado ao currículo escolar. As questões são sempre elaboradas de forma a medir o quão municiados os estudantes estão integrar a sociedade atual. Todos os enunciados reproduzem situações reais. Os alunos e seus diretores escolares também respondem a um questionário que colhe informações sobre seu sistema de ensino. 
  • O foco do programa este ano foi a avaliação de Matemática. Neste aspecto, o Brasil está no mesmo patamar de países como Argentina, Albânia, Jordania e Tunísia. Na comparação restrita à América Latina, o país está pior do que Chile, México, Uruguai e Costa Rica, mas seu rendimento na disciplina é melhor do que os de Colômbia e Peru. De acordo com o Pisa, a melhora em matemática se deve uma redução na proporção de estudantes cujo desempenho é considerado baixo (níveis 1 e 2). Em 2012, 67,1% dos alunos no país estavam rotulados dessa forma. Em 2003, eles eram 75,2% dos estudantes avaliados. Apenas 1,1% dos participantes avaliados no Brasil tem rendimento tido como de alto nível (níveis 5 ou 6). 
  • Na avaliação de Leitura, a nota de 410 pontos do Brasil deixa o país em pé de igualdade com Tunísia, Uruguai e Colômbia. Na comparação com outras economias da América Latina, estamos piores do que Chile Costa Rica e México. E melhores do que Argentina e Peru. Nossa evolução desde 2000 é creditada a melhorias de fatores econômicos, culturais e sociais no país. Ainda assim, 49% dos nossos alunos tem nível baixo de proeficiência em leitura. Isto significa que esses estudantes conseguem, no máximo, reconhecer o tema proposto pelo autor e fazer uma simples conexão com a realidade atual do mundo. Apenas 0,5% dos brasileiros de 15 anos são classificados como nível 5 ou 6, os mais altos, na avaliação de Leitura. 
  • Na avaliação de Ciências, os 405 pontos alcançados pelos adolescentes brasileiros avaliados estão na mesma faixa de Tunísia, Jordânia, Argentina e Colômbia. Na América Latina, estamos, mais uma vez, em situação pior do que Costa Rica, México, Chile e Uruguai, mas a nota supera a avaliação do Peru. Dos estudantes no país, 61% tiveram performance baixa nesse exame, o que significa que eles conseguem apenas explicar o óbvio. Uma parcela quase irrisória de 0,3% dos alunos são classificados como de níveis 5 e 6 na área das Ciências. 
  • Desigualdades
  • Na avaliação da diretora-executiva do Todos pela Educação, Priscila Cruz, quando destrinchados, os resultados do Pisa revelam como ainda há profundas desigualdades de oportunidades no Brasil. Segundo ela, políticas mais enfáticas devem ser executadas em função daqueles que mais precisam de atenção:
    Nos últimos anos, o país passou a garantir acesso ao ensino aos pobres também, mas isso não significa que a escolas tenham se tornado inclusivas do ponto de vista de aprendizagem. Os colégios devem ser pensados para atender aos mais pobres de maneira diferenciada, para que sejam sanadas as defasagens vindas da condições sócio-econômicas. Essas pessoas são as que mais precisam de ensino integral. Além disso, nas escolas que atendem a essa parcela da população devem estar os melhores professores – avalia.

    Fonte:O Globo
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