Carambola… uma fruta que pode provocar à morte de pacientes renais

Ivan de Colombo
Vagner Brandão
Pres. da Câmara Municipal de Colombo
Foto: BIC

O presidente da Câmara de Colombo, vereador Vagner Brandão, apresentou na Câmara Municipal de Colombo na tarde desta terça-feira (07-03), o Projeto de Lei do Legislativo N°: 811 que obriga os bares, restaurantes, lanchonetes, casas de sucos, supermercados, hortifrútis e similares sediados no Município de Colombo, a afixarem cartaz alertando sobre os riscos da ingestão da fruta carambola, por pessoas portadoras de doenças renais crônicas. De acordo com o estudo, a caramboxina pode provocar crise de soluço, epilepsia, convulsões e até levar à morte.

A fruta virou uma vilã após pesquisa realizada  em colaboração entre a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) e a Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP), ambas da USP que conseguiu isolar e caracterizar uma neurotoxina presente na carambola, que atua no sistema nervoso quando não filtrada pelo rim. Ela recebeu o nome de caramboxina. O trabalho foi capa da edição do dia 2 de dezembro da revista Angewandte Chemie International, com status de VIP (Very Important Paper).

Pesquisa realizada

O professor Norberto Peporine Lopes, da FCFRP, explica que ao isolar a caramboxina percebeu-se sua baixa concentração na fruta. Para conseguir 3 miligramas da substância foram necessários 20 quilos de carambolas, colhidas de árvores que não passaram por tratamentos com pesticidas. Os pesquisadores também confirmaram que a neurotoxicina sofre degradação quando misturada e conservada por um longo período em água.

 De acordo com o estudo, a caramboxina pode provocar crise de soluço, epilepsia, convulsões e até levar à morte. “Se uma pessoa sadia ingere a carambola, a toxina é absorvida pela digestão, filtrada pelo rim e eliminada na urina. Mas em pacientes com problemas renais, como o funcionamento do rim está comprometido, a toxina, que é um aminoácido modificado, cai na corrente sanguínea, se liga a potenciais receptores do sistema nervoso central e inicia uma sequência de eventos que incluem: soluços, confusão mental, agitação psicomotora, convulsões e até a morte”, explica Lopes. Ele alerta que mesmo pessoas sem histórico de problemas renais devem consumir a fruta moderadamente, já que a carambola possui ácido oxálico que pode causar cálculos renais.

Para caracterizar a ação da caramboxina, foram feitos testes com suco concentrado da carambola em animais de laboratório com insuficiência renal. “A ingestão do suco pelos animais produziu efeito similar às pessoas na mesma situação, como convulsões e óbitos”, afirma o professor Norberto Garcia-Cairasco, da FMRP. Ele destacou que o uso de animais era imprescindível para comprovar os sintomas decorrentes da intoxicação por carambola.

Segundo o professor Garcia-Cairasco, a caracterização da caramboxina, uma nova ferramenta de pesquisa em neurociências, pode ajudar na produção de substâncias chamadas “antagonistas”, que são moléculas que imitam a toxina e podem se ligar aos receptores cerebrais antes da substância, evitando os sintomas. “Atualmente, a intoxicação é tratada com bastante sucesso com hemodialise, se o diagnóstico for precoce”.

Os estudos sobre a caramboxina na USP começaram em 1998, quando o médico-assistente da Divisão de Nefrologia do Hospital das Clínicas da FMRP, Miguel Moysés Neto, constatou a morte por intoxicação de pacientes com problemas renais após ingerir a carambola ou o suco. De acordo com Garcia-Cairasco, Neto pediu auxilio a outro professor da FMRP, Joaquim Coutinho Neto, que iniciou as pesquisas neuroquímicas com a carambola.

Além dos professores Lopes e Garcia-Cairasco, também se vincularam a essa pesquisa o professor Luiz Silva, em cujo laboratório do Instituto de Química (IQ) da USP se fez a síntese na neurotoxicina, e o professor Ricardo Leão, da FMRP, responsável por ensaios “in vitro” que avaliaram a farmacologia da molécula.

Informações via Agência USP de Notícias

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