O uso das cinzas para indicar penitência não é puramente cristão. Era muito usado na Antiguidade por pagãos e judeus. Na cultura bíblica ele aparece com uma multiplicidade de significados.
As primeiras comunidades cristãs acolheram esse gesto como símbolo da transitoriedade da vida humana e tomaram-no indicador de um propósito de conversão no itinerário da fé. Testemunham-no os mais antigos escritores cristãos, como, por exemplo, Tertuliano (c. † 220), Cipriano de Cartago († 285), Eusébio de Cesaréia († 339), Ambrósio de Milão († 397), Jerônimo († 420), Agostinho († 430), etc.
Originalmente era usado somente para com os membros da Igreja que, tendo cometido pecados graves (fratricídio, adultério ou apostasia), arrependidos e confessados, pediam para voltar à comunhão eclesial. Esse sistema (ordo pœnitentium) foi chamado de penitência canônica ou pública.
Muito cedo a Igreja fez coincidir o início dessa forma de penitência com o começo da Quaresma, fixando a sua data para a quarta-feira antes do I domingo do Tempo Quaresmal, em vista da absolvição (pública) dos pecadores na quinta-feira santa pela manhã para que eles pudessem comer a Páscoa. Assim nasceu a nossa quarta-feira de cinzas.
Em 1091, sob o pontificado do papa Urbano II († 1099), o rito foi estendido a todos os cristãos, clérigos e leigos. As cinzas eram espalhadas sobre a cabeça dos homens e às mulheres era feito uma cruz sobre a fronte, por causa de sua cabeça velada. Nos livros litúrgicos, a denominação Quarta-feira de Cinzas, só apareceu no séc. XV, com o Missal impresso de 1474.
O rito da bênção das cinzas, que acontece depois da homilia, tanto quando se celebra a missa, quanto se celebra a liturgia da Palavra, começa com uma introdução e “é encerrado com a oração dos fieis” (cf. MR p. 163 a 165).
“Caros irmãos e irmãs, supliquemos a Deus Pai que se digne abençoar com a riqueza da sua graça estas cinzas que vamos colocar sobre as nossas cabeças em sinal de penitência”.
Conclusão: A imposição das cinzas se faz pulverizando a cabeça dos fiéis que se aproximam processionalmente e não assinalando as frontes com uma cruz, uma vez que este gesto é episcopal, usado na celebração do sacramento da Confirmação com o óleo santo do Crisma.
Autor – Amilton Manoel da Silva (Bispo da Igreja Católica Apostólica Romana)