Ivan de Colombo

A POLITICA DOS JÉCAS Há uma certa perplexidade com o Brasil em 500 e poucos anos em eleger os jécas políticos, a história brasileira já nos contas sobre eles e muitos desenvolveram trabalhos magnânimos ou heróicos. Não é um milagre! Mudanças ocorrem quando a coisa está insuportável. Nossa história é mix de trágico e hilário. Dom Pedro I, adolescente, estava com dor de barriga quando decretou a independência. Portugal não gostou do desarranjo e teve de consertar o gesto intempestivo com dívidas e garantindo privilégios a quem tinha, e o resto que danasse. O resto, no caso, o povo. Ninguém ligou porque a maioria era escrava. Escravos não tinham direitos. Esta a nossa fórmula social. Nunca houve real preocupação com o povo porque o Brasil foi criado sem povo. No começo era elite de um lado, aventureiros, truculentos e renegados; e, de outro, índios com seus hábitos e desinteresse em projetos europeus nos trópicos. No inicio a nossa primeira elite dizia que , índio devia ser caçado e trabalhar de graça. O índio não gostou da proposta e fugiu para o mato num processo que ainda hoje perdura nos confins da Amazônia. A elite foi obrigada a buscar negros na África.

E se formou uma nação híbrida. De um lado minoria de senhores que não trabalhavam e ganhavam; e, de outro, maioria de escravos que trabalhavam, mas não ganhavam. Estes eram os fundamentos de nossa civilização tropical. O conceito de povo não estava no projeto. Não que isso não provocasse tensão e preocupação, existia tambem o temor latente da multidão negra se enfezar e de fugir .
Mas a elite não temia e foi empurrando com a barriga e ignorando o povo que se reproduzia. Afinal, o que o povo ia fazer além de atrapalhar? Apenas a elite estava no projeto civilizatório. As capitanias hereditárias e depois o mal ajambrado império brasileiro com sua corte fuleira, que em poucos anos teve mais condes e duques que Portugal em sua história milenar, são dois exemplos históricos. Povo entrou de intruso na festa e até hoje cria problemas para as elites. O sucessor de índios e escravos no ideário oligárquico é o Jeca Tatu, eternamente fumando cigarro de palha, bebendo pinga e vendo o tempo passar. E como o êxodo rural empurrou os jecas para o entorno das grandes cidades, alguma coisa mudou, mas não a fórmula social.

Quando a elite vê muitos Jecas juntos e com idéias de cidadania e distribuição de renda, entoa: ‘Vamos acabar com esta chacrinha!’. O diacho é que o tempo voa e as coisas mudam no mundo, e o mundo insiste em ditar modas que o Brasil tem de aceitar para não cair em desuso. Essa tal democracia que dá ao povo o direito de votar e escolher quem vai mandar no estabelecimento até hoje não foi muito bem digerida pela elite, tanto que no último plebiscito sobre forma de governo em 1993 a monarquia teve espantosos 6 milhões e 840 mil votos. Sem um duque para fazer campanha. O lema era: Vote no rei. E não tinha nenhum. Imagine se tivesse.

Antônio Conselheiro achava que os males do Brasil começaram com a República , a República foi indo, mandou o regime militar para os ares com João Batista Fiqueiredo e elegemos Tancredo Neves. Mas eles concordaram co a República pois achavam que o povo éra ignorante e besta, e não iriam perceber que a elite aceitou para continuar tudo do mesmo jeito.

Mas sejamos justos. Não que a elite não gosta de democracia, ela não gosta de povo votar em alguém que não é da elite causa mal estar, imagina votar no Lula para presidente. Quando o povo vota em alguém da elite, tudo bem. Mas de vez em quando o mal adestrado povo navega contra a maré, e para mostrar sua revolta votaram em um palhaço,imagina elegeram Tiririca deputado Federal, e um veredor de Colombo vestido com roupas de “Caboclo” ( Oliveira da Ambulãncia) teve para deputado federal expressivos 28.000 votos, sem contar que tal fato já havia ocorrido, pois um outro caboclo pé vermelho conseguiu se eleger em Colombo com 3.300 votos, o mais votado para vereador, e o pior de tudo que ele deixou de fora candidatos da elite, mas esse tinha um trabalho social e é bem instruido e idolatrado pelo povo de bem, imagino que poucos conhecem a força do povo, e povo vota em quem ajuda o povo, mas será que ele poderá governar, será que deixarão ele criar raizes?.Estou falando de Nivaldo JNP.
Agora a elite quer cassar o palhaço Tririca. Uma palhaçada. Será medo de novo desarranjo, como o do Ipiranga? Este o pano de fundo do debate político no segundo turno das eleições em que se manipula ética como se ela existisse para se aplicar a um lado, já que
a elite nunca levou a sério a hipótese de prestar contas em assuntos de ética, moral e honradez. Lei e ética para o povo. E povo é Jeca Tatu. Não precisa mais que fumo e pinga, será ?, Mas e o Lula? Será esse o representante do povo da familia dos jécas?,e o José Serra é realmente um representante da eleite, ou um jéca eletizado ?

Há uma espécie de consenso religioso desde a vinda do homem branco ao Brasil de que alguns têm privilégios e outros deveres. Esta a origem de mazelas como nepotismo, corrupção e pedofilia na igreja, porque é notório que parte da igreja se alinha com anseios populares, mas a banda larga não larga a banda poderosa mesmo sabendo que são a facor de sistema que ainda produz desigualdades sociais que desembocam numa injusta distribuição de renda. E quando temos um projeto de distribuição com efeitos vistosos na cadeia econômica, em vez de aprender a lição e apresentar uma alternativa, o estabelecimento ou elite desqualifica seus autores num esforço esquizofrênico. A elite teve séculos para encurtar a distância entre os extremos sociais e não o fez por crueldade e convicção.

A coisa se repete em todos os setores da vida nacional. No século 20, sambistas que queriam ser gravados dividiam a autoria de suas composições com um branquelo qualquer. O povo, para a elite, ainda é preguiçoso, não gosta de trabalho, Jeca Tatu do asfalto, que leva fama de ingênuo e besta, quando, claro, não se enfeza e assalta todo mundo até ser preso ou morto. O certo é que, parodiando Millôr Fernandes, ‘the people broke their face’. Por essas e outras dá tédio chegar às bancas e ver as capas das principais revistas semanais com escândalos eleitorais em série de um lado – e de outro, nada. Este não é o debate sério. É de ocasião, travestido de moralizador. Para manter o pedestal e não derrubá-lo. Como disse Jesus pendurado na cruz, eles sabem o que fazem. E tudo continua na mesma. Dia 31 é dia de eleição, vamos votar no povo ou na elite, a escolha é sua, mas se escolhermos mal a nação dos Jécas e das Elites sofrerão juntas.

Ivan de Colombo

(Agradecimentos a Edilson Pereira)

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