Meu criei largado, brincando na rua, impinando pipa e fumando maconha, isso quando me davam . Não viciei. Ainda bem! Fumava de vez em quando. Não tinha grana pra comprá. Só por isso não viciei, ainda bem! Mas o Tonhão da dona Dêja, o Pepe e o Marcão viciaram. Viciaram e viciaram feio! Primero na maconha. Depois passaram pro crack, daí que se foderum de veiz! Crack é merda bróder! Só tinha mesmo que dá no que deu: rôbo, bandidage, crime. Até que se foderum de veiz: os mano apagaram eles. Mas eu nunca viciei… ainda bem! Hoje to aqui né!? Fudido, mas tô! A gente tem que ir levando né cara? Mais que é fóda é, né truta!? Levantá as cinco da madrugada pra pode chegá as sete no trampo; ônibus lotado… correria. Depois marmita requentada – isso quando tem marmita – sinão, trampo direto, sem rango…
Depois, quase oito da noite, chegá em casa, no maior prego… sem grana… E os cara mano, esses pulíticos fiadapu…, fazendo a maior onda pra aumentá uma merreca no salário mínimo. Putaquepariu!!! Não há quem agüente cara!!! Trampá direto, igual um cavalo e recebê uma merda de salário no final do meis. Sempre faltando tudo. A gente sempre devendo, sempre fud… vá tomá no cú!!! Ninguém agüenta cara! E ainda tem uns pulítico de bosta ainda vem pedi voto pra gente… que vão tudo tomá no c´.. ladrãozada do diabo!!! Só sabem menti e enchê o c´.. de dinhero esses lazarento, iquanto o povo fica aí se fuden….. Cara, não há quem agüente! Eu até que tentei. Ralei pra cacête – passei até fome – mas consegui juntá uns trôco. Deu pra comprá uns baguio usado que eu coloquei num barraco que aluguei por 150 reaus.
Daí levei a Cidinha pra morá comigo. A mãe dela fez o maior pampêro. Mas a mina gostava de mim pra cacete. Num tava nem aí. Foi comigo. A gente foi se ajeitando conforme dava. Tinha dia que o rango só dava pra uma veiz. Fóda mesmo cara! Mais aí que veio o vacílo. Pô! O maior vaciío da Cidinha! Engravidô… Cara eu posso sê o que for, mais tenho o maior respeito. Tirá, nem pensá. Vamo cuidá, vamo criá, numa boa mesmo. Tá ligado mano? O piá veio forte, bunito, parto normal. Legal mesmo! A gente pegô amor no guri. Claro né! Quem é que não gosta de criança? Inda mais sendo filho da gente… Mas a grana era curta, cara. Muito curta! Começô a farta tudo. Criança pequena, né?… dispesa maior… Muitas veis vi a Cidinha chorando escondida. Coitada! É foda truta! De uma coisa não me arependo: cansei de durmi cum fome, mas nunca dexei faltá leite pro piá. Nunca mesmo! Tá ligado? Vida dura mano! E ainda tem uns pulítico de bosta fazendo c´.. doce pra dá uma merreca de aumento do salário mininimo…
Mano, eu sou home, sou forte, to acostumado agüentá os cacete da vida, mas vê criança com fome é do cacete… mas eu sou homem, eu agüento! Mas a Cidinha – coitada – a Cidinha não agüentou. A gente vivia nervoso, brigando, xingando por qualqué coisa. Maior stresse cara. Tinha vez que a gente passava a noite intera discutindo. Ia pro trampo no dia seguinte no maior bagaço. Comecei a chegá cada vez mais tarde em casa. Não tinha outro jeito. Era melhor tá na rua do que em casa. Ficava zanzando à toa ou nos boteco, cansado, com fome, com frio… mas era melhor do que em casa. Passei a viver desse jeito. Ia em casa só pra durmi um poco. Já num tinha prazer nem de olhar pro piá que eu gostava tanto… Comecei a bebê. Procurava esquecer tudo na cachaça. Chegava em casa já quase amanhecendo, de fogo, cansado e com fome. Larguei do trampo. A Cidinha não agüentô. Ninguém agüenta mano! Ela pegou o piá e se mandô. Sumiu! Não fui atrais.Fingi que nem liguei. Mas cara… sofri pra cacete! E ainda tem uns pulítico de bosta… que vão tudo se fo.. esses fiadap..! É foda mano! Fui morá na rua. Revirava lata de lixo procurando comida. Não tenho vergonha de contá. Sem casa, sem mulher, sem filho, sem porra nenhuma… Essa pulitica de bosta..