CRÔNICA… POLITICA DE BOSTA

Caro leitor do Blog, a crônica abaixo contem “palavrões”, talvez você não goste do vocabulário, mas se tratando se uma cônica irei postar na sua integra. Fica a seu critério a leitura.
A ENTREVISTA … ESSA ” PULITICA” DE BOSTA
– O que você fazia ?
– Como assim o que você fazia?…Fazia muita coisa, cacete!!!
– Tá bem então poxa! Sem grilo: Qual era o teu trampo? 
– Meu trampo… meu trampo… eu era pedrero. Pedrero não. Servente de pedrero. Orêia sêca, pião de obra… o que mais eu podia fazê carai? Nunca aprendi nada, nunca tive oportunidade… sempre me fudi na vida. Sem estudo, sem profissão… o que mais eu pudia fazê? Trabaiá de médico? De professor? De pulícia? Claro que não né truta!? Nasci na periferia. Bairro pobre pra carai.

Meu criei largado, brincando na rua, impinando pipa e fumando maconha, isso quando me davam . Não viciei. Ainda bem! Fumava de vez em quando. Não tinha grana pra comprá. Só por isso não viciei, ainda bem! Mas o Tonhão da dona Dêja, o Pepe e o Marcão viciaram. Viciaram e viciaram feio! Primero na maconha. Depois passaram pro crack, daí que se foderum de veiz! Crack é merda bróder! Só tinha mesmo que dá no que deu: rôbo, bandidage, crime. Até que se foderum de veiz: os mano apagaram eles. Mas eu nunca viciei… ainda bem! Hoje to aqui né!? Fudido, mas tô! A gente tem que ir levando né cara? Mais que é fóda é, né truta!? Levantá as cinco da madrugada pra pode chegá as sete no trampo; ônibus lotado… correria. Depois marmita requentada – isso quando tem marmita – sinão, trampo direto, sem rango…

Depois, quase oito da noite, chegá em casa, no maior prego… sem grana… E os cara mano, esses pulíticos fiadapu…, fazendo a maior onda pra aumentá uma merreca no salário mínimo. Putaquepariu!!! Não há quem agüente cara!!! Trampá direto, igual um cavalo e recebê uma merda de salário no final do meis. Sempre faltando tudo. A gente sempre devendo, sempre fud… vá tomá no cú!!! Ninguém agüenta cara! E ainda tem uns pulítico de bosta ainda vem pedi voto pra gente… que vão tudo tomá no c´.. ladrãozada do diabo!!! Só sabem menti e enchê o c´.. de dinhero esses lazarento, iquanto o povo fica aí se fuden….. Cara, não há quem agüente! Eu até que tentei. Ralei pra cacête – passei até fome – mas consegui juntá uns trôco. Deu pra comprá uns baguio usado que eu coloquei num barraco que aluguei por 150 reaus.

 Daí levei a Cidinha pra morá comigo. A mãe dela fez o maior pampêro. Mas a mina gostava de mim pra cacete. Num tava nem aí. Foi comigo. A gente foi se ajeitando conforme dava. Tinha dia que o rango só dava pra uma veiz. Fóda mesmo cara! Mais aí que veio o vacílo. Pô! O maior vaciío da Cidinha! Engravidô… Cara eu posso sê o que for, mais tenho o maior respeito. Tirá, nem pensá. Vamo cuidá, vamo criá, numa boa mesmo. Tá ligado mano? O piá veio forte, bunito, parto normal. Legal mesmo! A gente pegô amor no guri. Claro né! Quem é que não gosta de criança? Inda mais sendo filho da gente… Mas a grana era curta, cara. Muito curta! Começô a farta tudo. Criança pequena, né?… dispesa maior… Muitas veis vi a Cidinha chorando escondida. Coitada! É foda truta! De uma coisa não me arependo: cansei de durmi cum fome, mas nunca dexei faltá leite pro piá. Nunca mesmo! Tá ligado? Vida dura mano! E ainda tem uns pulítico de bosta fazendo c´.. doce pra dá uma merreca de aumento do salário mininimo…

Mano, eu sou home, sou forte, to acostumado agüentá os cacete da vida, mas vê criança com fome é do cacete… mas eu sou homem, eu agüento! Mas a Cidinha – coitada – a Cidinha não agüentou. A gente vivia nervoso, brigando, xingando por qualqué coisa. Maior stresse cara. Tinha vez que a gente passava a noite intera discutindo. Ia pro trampo no dia seguinte no maior bagaço. Comecei a chegá cada vez mais tarde em casa. Não tinha outro jeito. Era melhor tá na rua do que em casa. Ficava zanzando à toa ou nos boteco, cansado, com fome, com frio… mas era melhor do que em casa. Passei a viver desse jeito. Ia em casa só pra durmi um poco. Já num tinha prazer nem de olhar pro piá que eu gostava tanto… Comecei a bebê. Procurava esquecer tudo na cachaça. Chegava em casa já quase amanhecendo, de fogo, cansado e com fome. Larguei do trampo. A Cidinha não agüentô. Ninguém agüenta mano! Ela pegou o piá e se mandô. Sumiu! Não fui atrais.Fingi que nem liguei. Mas cara… sofri pra cacete! E ainda tem uns  pulítico de bosta… que vão tudo se fo.. esses fiadap..! É foda mano! Fui morá na rua. Revirava lata de lixo procurando comida. Não tenho vergonha de contá. Sem casa, sem mulher, sem filho, sem porra nenhuma… Essa pulitica de bosta..

A primera veiz foi com uma arma de brinquedo que eu achei no lixo. Enquadrei mesmo!!! Falei duro! Falei firme! A mão tremia, mas tava escuro e o cara não via. Gritei: PASSA A GRANA MANO!!! O cara assustado, tremendo, levantou as mão. Foi fácil demais cara! Rapei tudo: a grana o relógio, tudo… Gostei !
O relógio, depois, eu troquei com o Senhão, um bandidinho lá da vila… Agora era pra valê mesmo! Tava armado… Cidade grande. Muita gente. O dinheiro pra mim agora era bosta. Não precisava mais dele. Mas assaltava e robava por ódio. Queria dinhero pra cagá em cima dele. Essa merda que tinha feito eu perde tudo. Só assaltava rico, almofadinha… esses fiadaputa que nunca tiveram farta de nada e num sabem o que é se fodê na vida. Assaltava por vingança, por ódio. Ódio de mim, da vida, de tudo. Ódio do dinhero, que pra mim agora era bosta.  O dinhero nunca ia pagá o que tinha me levado: a fibra a corage, a Cidinha, o guri… Cara… maior pira! Eu assaltava por ódio, se reagisse morria. Eu atirava pra matá mesmo. Numa boa.
Agora to aqui né cara!? Tô cagando e andando pro que vai acontecê comigo. Já levei pau aqui dentro. To tudo quebrado, já quase nem consigo dormi direito. Mas sou home cara. Sou duro. Sou fudido… Se 
me sortarem vou continuá na rua. Vorto pra bosta. Vorto pro crime. Pro nada… Ficando aqui perco a liberdade… Que liberdade tem o cara que nasce na merda? Que se foda a liberdade. Que se foda tudo! Pobre nasce pra se fudê mesmo. Ninguém liga pra pobre. Essa pulitica de bosta…
Chega a noite com suas trevas, pesadelos e horrores… a escuridão silenciosa invade a cela fria… Amanhã será apenas mais um dia…
Acordo assustado e fico feliz ao constatar que essa “entrevista” foi apenas mais um de meus sonhos absurdos que de vez em quando teimam em me roubar a paz, mostrando uma realidade que prefiro ignorar…. Assim, posso continuar tranquilo no meu mundinho hipócrita, fingindo não saber que milhões de irmãos vivem na miséria e às margens da vida. 
Vou tomar meu banho, meu café, e dar início a mais um dia na minha “nobre” missão de contribuir para engrossar as fileiras dos crápulas que amanhã assumirão o poder para massacrar os pobres e desvalidos.
SE UMA SOCIEDADE NÃO PODE AJUDAR A MAIORIA QUE SÃO OS POBRES, DIFICILMENTE PODERÁ SALVAR A MINORIA QUE SERÃO OS RICOS” .
Muita paz e até a próxima!
“O cronista da cidade”
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