Telegramas secretos reforçam tese de assassinato de João Goulart

Documentos secretos da ditadura militar de 1964 mostram que o então ex-presidente João Goulart foi monitorado no ano da sua morte, 1976, por Roberto Campos, uma das principais lideranças civis do golpe. À época, Campos era embaixador brasileiro em Londres. Campos foi um dos ideólogos econômicos do regime militar. Ocupou o Ministério do Planejamento no governo de Castelo Branco, o primeiro general presidente da ditadura. 
Para a família de Jango e integrantes da Comissão Nacional da Verdade, esses telegramas reforçam a teoria de que Jango teria sido morto pela ditadura. As suspeitas de assassinato se amparam na importância de uma espionagem feita por Roberto Campos e no temor de que, vivo, Jango pudesse retornar ao Brasil para dar apoio à resistência pacífica ou até armada. A frase do segundo telegrama, em que Jango teria dito que sua volta ao Brasil só aconteceria “quando essa viagem significasse alguma coisa”, pode ter alimentado paranoias e temores da ditadura. A Comissão da Verdade trabalha com a possibilidade de que Jango tenha sido assassinado na Operação Condor, aliança de ditadores latinos para eliminar adversários.No “SBT Brasil”, foi ar nesta sexta uma reportagem.
A seguir, os três telegramas secretos: 
Telegrama 1 – Nesta mensagem, de 12 de agosto de 1976, Campos relata ter sido informado de um suposto encontro em Londres entre Jango e Miguel Arraes, ex-governador de Pernambuco perseguido pela ditadura e também exilado. Segundo Campos, Arraes teria proposto a Jango apoiar um “movimento subversivo” a partir de bases na Guiana. O próprio Campos julga irrealista a iniciativa e afirma ter obtido a informação de que Jango teria recusado o esquema por “considerá-lo imprudente e impraticável”. Em 1974, dois anos antes, a ditadura exterminou a Guerrilha do Araguaia, organizada pelo PC do B. A ala mais dura da ditadura sempre acenava com o fantasma de novo levante para aumentar a repressão política.
Telegrama 2 – Em 17 de setembro de 1976, Campos narra em detalhes uma viagem de Jango à França para tratamento cardíaco e uma passagem por Londres para se encontrar com seus familiares. Roberto Campos afirma que a família temia que Jango fosse assassinado ao retornar ao Uruguai, onde estava exilado. Mas o então ex-presidente minimizou esse risco. Campos relata que Goulart teria dito a familiares que só voltaria ao Brasil “quando essa viagem significasse alguma coisa”.  Jango via risco de “endurecimento no Brasil” por dificuldades na economia e pelo avanço da oposição consentida em eleições municipais. O ex-presidente acreditava ainda na possibilidade de “focos conspiratórios” e “alternativas mais duras” ao governo do general presidente Ernesto Geisel.

Telegrama 2 – Página 2

Telegrama 2 – Página 3
Telegrama 3 – Esta mensagem foi enviada por Campos a Brasília no dia da morte de Jango, 6 de dezembro de 1976. Campos relata a morte do ex-presidente e fala que Ney Faria, cônsul em Paso de Los Libres, cidades na Argentina na fronteira com o Uruguai, entrara em contato com Londres pedindo orientações devido a “aspectos delicados do caso”. Campos recomenda a Brasília dar orientações para o cônsul Ney Faria por meio da Rádio do Exército. A ditadura agiu rápido. Jango foi enterrado no dia seguinte, em São Borja (RS), sem autópsia.
Foto: Agência Brasil
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