O intercâmbio entre o Museu Paranaense e a Fundação Joaquim Nabuco (Recife – PE) ganha no dia 09 de junho (quinta-feira) um novo capítulo, quando será aberta a inédita “Necrobrasiliana”. Com curadoria de Moacir dos Anjos, a exposição apresenta um conjunto de obras de artistas brasileiros contemporâneos que reinterpretam e reinventam o acervo documental – visual e escrito – denominado brasiliana. Produzidos entre os séculos XVI e XIX, por artistas e outras personalidades como Albert Eckout, Jean-Baptiste Debret, Johan Moritz Rugendas, entre outros, tais documentos históricos trazem imagens da violência colonial praticada contra as populações indígenas e negras.
Por estarem presentes na memória coletiva dos brasileiros, essas representações acabam por normalizar as violências do colonialismo. De acordo com o texto curatorial da exposição, a reunião desses trabalhos demonstra “estar-se formando uma nova representação da memória colonial do país, que não somente nomeia os danos infligidos a partes de sua população, mas redistribui, em novos lugares simbólicos, os corpos que o habitam”.
Integram a mostra coletiva obras de Ana Lira, Dalton Paula, Denilson Baniwa, Gê Viana, Jaime Lauriano, Rosana Paulino, Rosângela Rennó, Sidney Amaral, Tiago Sant’Ana, Thiago Martins de Melo, Yhuri Cruz e Zózimo Bulbul.
A abertura da exposição se inicia com uma conversa entre Moacir dos Anjos e os artistas Thiago Martins de Melo, Yhuri Cruz e Rosângela Rennó. Os visitantes receberão gratuitamente o jornal da exposição que conta com um ensaio do curador e textos sobre os trabalhos apresentados. A tiragem do impresso é limitada.
CURADOR – Moacir dos Anjos é pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, no Recife, onde coordena o projeto de exposições “Política da Arte”. Foi curador da 29ª Bienal de São Paulo (2010), do pavilhão brasileiro na 54ª Bienal de Veneza (2011) e das mostras “Cães sem Plumas” (2014, MAMAM, Recife), A Queda do Céu (2015, Paço das Artes, São Paulo), “Emergência” (2017, Galpão Bela Maré, Rio de Janeiro), “Quem não luta tá morto. Arte democracia utopia” (2018, Museu de Arte do Rio), “Raça, classe e distribuição de corpos” (2018), “Minas” (2019), “Educação pela pedra” (2019) – as três últimas na Fundação Joaquim Nabuco –, “Língua Solta” (2021, cocuradoria de Fabiana Moraes, Museu da Língua Portuguesa, São Paulo) e “Alfredo Jaar – Lamento das Imagens” (2021, Sesc Pompeia, São Paulo).
É autor dos livros “Local/Global. Arte em Trânsito” (2005), “ArteBra Crítica” (2010) e “Contraditório. Arte, Globalização e Pertencimento” (2017).
200 ANOS DA INDEPENDÊNCIA – No calendário de ações do MUPA, a exposição figura como uma das atividades vinculadas ao bicentenário da Independência do Brasil. “Necrobrasiliana” é fruto de uma parceria entre o MUPA e a Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), iniciada em 2020. A cooperação entre as duas instituições, que conectam o Norte e o Sul do Brasil, é formada por um programa de ações nas áreas de História, Antropologia, Artes Visuais e Museologia.
A Fundaj é sediada no Recife (PE) e foi fundada em 1949 pelo sociólogo Gilberto Freyre. O propósito era preservar o legado histórico-cultural do político abolicionista Joaquim Nabuco. Após o período expositivo no MUPA, a exposição “Necrobrasiliana” segue para a Fundação Joaquim Nabuco, com previsão de inauguração em setembro.
“A partir do trabalho destes artistas contemporâneos, que analisam e discutem as impressões produzidas pelos artistas viajantes do passado, acontece uma operação de grande importância para a construção do pensamento crítico e combate às violências sofridas pelos povos indígenas e população negra. Tomar a arte como vetor para discutir questões históricas e antropológicas foi uma das estratégias do Museu Paranaense nos últimos anos”, afirma a diretora do MUPA, Gabriela Bettega.
Mais sobre os artistas que estarão presentes na abertura:
Rosângela Rennó – Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Formou-se em Artes Plásticas pela Escola Guignard e em Arquitetura pela Universidade Federal de Minas Gerais. É doutora em Artes pela Escola de Comunicações e Artes da USP. Sua obra é marcada por apropriação de imagens descartadas, encontradas em mercados de pulgas e feiras, e pela investigação das relações entre memória e esquecimento. Já realizou diversas exposições individuais e coletivas no Brasil e no exterior, como a Estação Pinacoteca, Instituto Moreira Salles, Fondation Cartier e Bienal Internacional de Veneza.
Thiago Martins de Melo – Vive e trabalha entre São Luís, São Paulo e Guadalajara (México). Artista visual, trabalha com pintura, escultura, instalação e animação em stop motion. Entre as principais exposições individuais estão: “Ouroboros Sucuri”, Galeria Millan, São Paulo, Brasil (2021) e “Necrobrasiliana”, Museu Nacional da República, Brasília, Brasil (2019). Participou de inúmeras exposições coletivas, destacando: 3ª Frestas-Trienal de Artes, Sorocaba, Brasil (2021); 12ª Dakar Biennale, Dakar, Senegal (2016); 10ª Bienal do Mercosul, Porto Alegre, Brasil (2015); 31ª Bienal de São Paulo, São Paulo, Brasil (2014); 12e Biennale de Lyon, França (2013).
Yhuri Cruz – Vive e trabalha no Rio de Janeiro. É artista visual, escritor e dramaturgo. Desenvolve sua prática artística e literária a partir de criações textuais que envolvem ficções, proposições performativas – que o artista chama de cenas – e instalativas em diálogo com sistemas de poder, crítica institucional, relações de opressão, encenações de cura, resgates subjetivos e violências sociais reprimidas. Cruz foi indicado ao Prêmio PIPA em 2019 e, no mesmo ano, realizou “Pretofagia”, sua primeira individual no Centro Municipal de Artes Hélio Oiticica – Rio de Janeiro/ RJ.
Serviço:
Dias: de 09 de junho a 28 de agosto de 2022
Recepção de abertura com as presenças do curador e dos artistas: 09 de junho, 19h
Museu Paranaense – Rua Kellers, 285 – Curitiba
Entrada gratuita