Os anos foram passando, Ambrósio não era mais tão entusiasmado com os presentes de sempre. Já não pedia mais para lhe comprar coisas nas lojas e descontar no salário.E ele descontava tão pouco que nada pesava. Susto enorme Jorge levou quando Ambrósio, aparece com um presente para ele. Ambrósio sabia que ele gostava de jogar tênis, e lhe compra uma raquete, de marca. Ficou estupefato. Quis recusar.Recusou.Ambrósio insiste.
– Meu filho joga tênis num clube xique aí seu Jorge. Pedi pra ele escolher pro Senhor.Jorge quis saber que clube era. Tinha certeza que o filho de Ambrósio jogava futebol de areia. Estava pasmado. Jogava justo no clube que ele frequentava ! Será que já o vira por lá? Não. Não havia ali nenhum rapaz parecendo ser filho de Ambrósio. Um esforço enorme para disfarçar o constrangimento. Mas quem diria? Que tempos são esses? Ele ganhando um presente caro de seu empregado. Chegava ser audacioso esse ato. O que havia mudado? Será que estava tão alienado assim que não via as coisas se transformando? Será que não poderia mais nem ser generoso? Bom então…
Segunda feira Ambrósio voltou para trabalhar e foi demitido pelo contador de Jorge. Quis falar com Jorge. Ele não estava.
– “Mas, o doutor Jorge…”
Fazia tempo que não o chamava de doutor. Mas essa palavra o fez lembrar que seu filho já estava se formando advogado. Seria Doutor também. Nesse ponto Ambrósio se inflou de uma força estranha que ele não sabia que tinha. Voltou para casa sentindo-se livre como um negro saindo da cozinha sortida da Casa Grande. Dois anos depois, pouco antes, Jorge recebe uma intimação da justiça do trabalho. Diante do juiz, olha para o filho de Ambrósio advogando a causa do pai e pensa: “Meu Deus! Onde isso vai parar” ?
Foi generoso toda vida. Desse dia em diante começou se envolver com política. Está doando para a campanha do senador seu amigo. Nunca foi muito com a cara dele. Mas agora estava precisando de um Presidente. Queria o seu pais de volta.
Israel de Oliveira.