Era uma época em que Colombo ainda sussurrava o nome dos imigrantes italianos, e as tribos Mandaçaia e Tingui dançavam sob a sombra da exuberante floresta que envolvia a Gruta de Bacaetava e o misterioso Morro da Cruz. Mais de 150 anos antes dos primeiros passos dos italianos nessas terras, a história de Potyara e Arco de Flecha se desdobrava como uma trama de amor proibido e magia enraizada nas raízes da floresta.
Na região do Morro da Cruz, a jovem Potyara, filha do cacique Urucum, irradiava uma beleza que rivalizava com a própria natureza. Seu perfume, uma mistura de flores e brisa, encantava todos que ousavam cruzar seu caminho. Arco de Flecha, o intrépido guerreiro e filho do cacique Pedra Lascada, da tribo Tingui, região de “kurytyba”, passava dias pensando em adentrar na intensa floresta para descobrir a origem do perfume que enfeitiçava seu coração de paixão.
Um dia, movido pelo amor e coragem, Arco de Flecha resolveu seguir a trilha perfumada. No entanto, outro jovem guerreiro e pajé da tribo Mandaçaia, zelava com seus olhos a beleza e encantos da india Potyara, tramando nas sombras. O destino de Potyara estava entrelaçado entre dois pretendentes, desencadeando uma trama de rivalidade que culminaria em um amor marcado pela magia e pelas provações.
Após duas luas cheias, Arco de Flexa chega na aldeia Mandaçaia, cercado por guerreiros, foi levado ao Pajé, após deixa-lo por duas noites amarrado em um pé de aroeira, resolveu apresenta-lo ao cacique antes de mata-lo. Sem forças, Arco de Flecha se identificou murmurando algumas palavras, entre elas o perfume que o levou até a aldeia. Muito sábio, o cacique Urucum sabia que esse era o momento de decidir o futuro de sua filha conforme previsão do feiticeiro da tribo, então resolveu apresentar Potyara e prometeu dar sua filha como esposa. Foram três dias de muita festa entre os índios Tinguis e Mandaçaias às margens do Rio Tumiri.
O casamento de Potyara e Flecha Dourada desafiava as barreiras das tribos, porém significava um acordo de paz. No entanto, o destino, traiçoeiro, reservava uma armadilha. Em uma emboscada ardilosa preparada pelo pajé Mandaçaia, Arco de Flecha foi ferido no meio da floresta, onde hoje é o Bosque da Uva, e Potyara, sequestrada.
Entre lágrimas e agonia, Arco de Flecha prostrou-se no úmido solo da floresta, sob a sombra de uma castanheira, implorando ao deus Tupã pela vida de Potyara. Com sua tristeza ecoando pela floresta, Tupã atendeu ao apelo, curando as feridas de Arco de Flecha e dotando-o de poderes sobrenaturais para resgatar sua amada.
Guiado por esses dons, Arco de Flecha descobriu o covil do feiticeiro nas profundezas da Gruta de Bacaetava. O duelo que se seguiu foi uma dança entre flechas, feitiços e a energia pulsante da floresta. Determinado a salvar Potyara, Arco de Flecha abriu um portal mágico para aprisionar o feiticeiro.
Outro mistério no teto das caverna de Bacaetava, é um fruta (Mão de Buda), ” encantada”, recebida do deus Tupã, ela cresce próximo à estátua de Potyara, esperando para ser consumida no seu despertar, restaurando suas energias para reencontrar o caminho do Morro da Cruz onde está Arco de Flecha.
E assim, a lenda de Potyara e Arco de Flecha permanece viva, entrelaçada nos ventos que sussurram pela floresta da região, contando a história de um amor que desafiou a magia e transcendeu as barreiras tribais. O grande dia do despertar será em uma época de grande festa, com três dias de chuva que significa as lágrimas dos noivos. Depois desse reencontro, a chuva deixará de cair nos dias em que se realiza a Festa da Uva.
(Ivan de Colombo)